domingo, 15 de março de 2009

O meu escritor «maldito» de estimação: Luiz Pacheco


Luiz Pacheco tem vários livros brilhantes e desconfortáveis. Alguém que se considerava muito intelectual um dia disse-me que ele era "desencorajante". Mas isso devia-se apenas à percepção que a sábia criatura em questão tinha da ideia usual de literatura e de como de devem comportar os escritores, ou o que deviam escrever. O que eu estou em total desacordo. Em primeiro lugar porque Luiz Pacheco no seu livro "Exercícios de Estilo" dá aulas a qualquer académico emproado. Em segundo adorei o seu primeiro texto «Comunidade». Fascinante pequeno livro em que conta a história íntima da sua família e das relações interpessoais.
Depois fiquei deliciado pelo «O Caso das Criancinhas Desaparecidas» que é de uma irreverência intelectual só igual a Jorge de Sena com «O Reino da Estupidez».
Luiz Pacheco foi muito maltratado por toda a gente porque entrava a matar e disparava certeiro. A pontaria estava afinada mas infelizmente os alvos eram bastante elusivos. Contudo feriu seriamentebastantes personagens e por tal foi pura e simplesmente ostracizado.
Foi corrido dos jornais onde trabalhava, os editores não o publicavam... enfim, foi considerado um «intocável».
Só o «Circulo dos Leitores» lhe deu a mão por obrigação de reverência intelectual e editou "O Caso das Criancinhas Desaparecidas".
Viveu na pior das misérias ali prós lados de Setúbal, até que o Presidente Mário Soares se lembrou dele e lhe ofereceu uma casa. A história é mais ou menos deprimente e catastrófica!
Contudo eu considero-o como um dos nossos melhores escritores. Os textos são muito densos porque retratam claramente situações de uma exactidão fotográfica ou de um delírio à la James Joyce.
Contudo, a pureza da sua escrita em português de portugal devia ser mais estudada. É acutilante e de uma precisão de faca de ponta-e-mola.