domingo, 24 de agosto de 2008

TÉCNICA LIVRE DE MEDITAÇÃO


Chamo-lhe Técnica 'Livre' de Meditação porque este conjunto de processos que vou descrever - o melhor que puder - não está ligado a nenhuma Escola específica e, na verdade, é um conjunto de vários procedimentos provenientes de diversas técnicas meditativas conjugado para facilitar a obtenção de "um resultado".
Gostaria de explicar o que quero eu dizer por 'um resultado' - sabendo à partida que 'um resultado' é algo contraproducente, no que diz respeito há aquisição do Conhecimento. Portanto, esta técnica 'livre' - nesta fase - não se esforça aqui por obter qualquer tipo de 'Conhecimento' do tipo místico, mas sim a obtenção de 'resultados' com valor físico: redução do stress, descontração, relaxação e, inevitavelmente, compreensão do funcionamento do cérebro, durante o acto de meditação.
Aqui há dias, uma amiga minha que pratica Reiki, dizia-me da grande dificuldade que tinha em alcançar um verdadeiro 'sítio mental' de descontração.
Embora eu não conheça as técnicas de Reiki, pela descrição que ela me facultou, o tipo de Meditação que essa escola segue - ou que foi patrocinado à minha amiga - é do tipo Yoga e baseia-se na respiração Pranayama, ou seja, Meditação com a atenção focada no acto da respiração: 'respiração controlada'.
Esse método, que quase todos os noviços em meditação já experimentaram, é de facto difícil numa primeira abordagem, e não vamos utilizá-lo aqui. A respiração Pranayama, para um Ocidental, tem a mesma dificuldade que o Yoga: a abordagem ocidental competitiva.
Nunca é demais relembrar a todos os meditadores ou praticantes de Yoga, que a base de todas as práticas Yogi é a 'não competição' com outros, inclusive competir por não-competir.
E, é sublinhado o facto: "muito menos competir connosco mesmo".
Perguntar-me-ão vocês então, porque referi eu acima no texto 'um resultado'? Porque um resultado é um objectivo!
É que um 'objectivo' pode ser não-competitivo... pode ser integrante! E isso é um 'resultado'.
O filósofo-escritor Alan Watts, que escreveu o magistral livro 'O Budismo Zen', disse um dia mais ou menos o seguinte: 'O Zen é algo que para ser compreendido, tem que ser participado e, depois de entrar, não há razão para sair. Por isso só pode ser explicado de dentro para fora, do ponto de vista do experimentador'.
Claro que isso não é honesto para a concepção cartesiana Ocidental, que requer cientificamente a imparcialidade na aquisição e leitura dos dados de uma determinada experiência. Seria o mesmo que um Cristão explicar a 'Fé' a um leigo, ou um Cientista Quântico explicar a uma pessoa comum a capacidade de uma coisa estar, ao mesmo tempo, em dois sítios diferentes.
Portanto, a minha tentativa aqui é que, enganando a mente para a obtenção de um objectivo, obtenhamos um resultado que definitivamente cesse o desencorajamente da mente e da experiência. Porque a mente racional ao esforçar-se, só complica o processo!
Agora, vejamos o que se pretende com a Meditação.
A Meditação não é o vagabundear da Mente. A Mente vagabundeia por si só e não necessita da nossa ajuda para se perder nos seus labirintos.
Portanto temos à partida aqui duas realidades: a Mente e Alguém que observa a Mente.
Se podemos observar o movimento da Mente é porque existe uma outra personagem exterior a ela. Mas, nesse caso, quem é a Mente? E quem é esse outro personagem que PODE observar a Mente?
Isso é o que se pretende com a Meditação. Dissociar o observador do observado e compreender como o Observado se consegue imiscuir com o Observador, levando-o a acreditar que é ele mesmo.
É nesta confusão mental que estão baseadas a maior parte dos desiquilibrios mentais e das doenças do foro psicológico.
A Mente é uma máquina extraordináriamente sofisticada. Olhemo-la aqui como um computador de última geração criado para 'resolver' todo o tipo de problemas. É um computador que não tem necessidade de descanso. Trabalha 24 sobre 24 na resolução de contínuos problemas, de problemas de problemas, ou da falta de problemas para resolver.
Nesse labor incessante confunde-se connosco mesmo, e, na maioria dos casos, nós pensamos que somos ele, e ele, definitivamente, como máquina, acha que é: nós!
Mas nós não somos o ruído... somos o ouvinte!
De uma maneira simples, a Meditação é apenas isso: ficar um bocadinho só, desligar a máquina e observar a paisagem! Isto é a Meditação: comungar connosco mesmo um momento de privacidade espiritual.
No entanto temos um problema: como desligar a máquina! Sobretudo se ela achar que não deve ser desligada.
Uma boa maneira de tentar desligar a máquina é: entediá-la. A Mente não gosta de situações repetitivas, isso desmotiva-a, entedia-a, adormece-a. Portanto, esta é uma tentativa de adormecer a máquina, continuando 'nós' em vigília.
A primeira coisa a fazer é encontrar uma posição para Meditar. Essa posição não deve ser demasiado cómoda ou o corpo, ao longo da relaxação subsequente, irá adormecer.
Não é obrigatoriamente necessário sentarmo-nos em posição de Lotus oriental. Aliás, essa posição é extremamente desconfortável para muitos, as pernas ficam dormentes e há grande dificuldade em manter erecta a coluna vertebral. Portanto o melhor será encontrarmos uma cadeira confortável, ou um sofá de costas direitas que não seja demasiado mole.
Após estarmos sentados, coluna vertebral direita, mãos no colo, uma sobre a outra, como um receptáculo, palmas voltadas para cima, tentemos descontrair.
Sugiro que se sigam os preceitos de descontração utilizado para a auto-hipnose. Sugiro esta relaxação porque é muito eficaz e se torna económica no esforço. Uma vez conseguida a relaxação completa pela primeira vez, o corpo, ao tomar a posição nas seguintes, automaticamente tenderá a chegar ao ponto óptimo de descontração mais rapidamente. Isso fará ganhar vários minutos úteis em meditação.
Os procedimentos de auto-hipnose para relaxação são os seguintes:
Uma vez encontrada a posição confortável, 'enumerar' mentalmente de baixo para cima os membros, desde os pés, pernas, ancas e por aí adiante, dando 'ordem de relaxar'. "As minhas pernas estão relaxadas... as minhas ancas estão totalmente relaxadas..." sucessivamente até à cabeça, onde será útil denominar olhos, músculos dos maxilares (normalmente muito tensos), etc.
A boca pode entre-abrir, para relaxar melhor e, a cabeça, tem tendência a cair um pouco para diante. Corrija a posição do pescoço, que deve ficar direito, tal como a coluna, se for necessário, mas com movimentos muito lentos.
Se necessitar de abrir os olhos para alguma coisa, faça-o lentamente, não fixe luzes fortes, nem cores fortes, e volte a cerrá-los. Não haverá necessidade de voltar ao início da descontração.
Uma das coisas mais irritantes na relaxação é que irão aparecer inúmeros contratempos. Comichões inoportunas no nariz, na perna, etc. Tente, tanto quanto possível, não ligar. Mas se tiver que coçar o nariz, faça-o. É melhor um gesto interromper a relaxação do que ficar mentalmente bloqueado com a comichão no nariz que não o deixa pensar em mais nada.
Quando terminar a enumeração dos orgão a relaxar, a sua respiração já deverá ter abrandado o bastante. Pode respirar fundo uma ou duas vezes para 'garantir' a sua presença relaxada naquele local. Tome consciência de que 'está ali'.
Com todo o seu sistema confortavelmente reduzido ao menor esforço, trabalhe agora com a sua mente.
A sua mente é um mecanismo muito perspicaz portanto dê-lhe a devida atenção.
Irá utilizar para a sua meditação uma Mantra. Uma Mantra é um Som de poder (se falarmos a nível místico), aqui será apenas uma 'lenga-lenga' de apoio psicológico para serenar a Mente.
Pode usar o som mental OM, que é o mais fácil de representar mentalmente como ruído interior (e por outras razões arquétipas que aqui não interessam) e repeti-lo a cada expiração.
Para não incorrer na paranóia de 'contar' as inspirações e expirações (como no processo Pranayama) e acabar por ficar incomodado e tenso, basta que "ao expirar calmamente repita mentalmente o som contínuo OM, em vibrato mental, até ao final da expiração". Inspire e respire calmamente, 'sem se forçar' a ficar calmo. Respire apenas e repita o som mental.
Neste momento o seu corpo começará a relaxar ainda mais, por isso tenha atenção ao pescoço e não deixe cair a cabeça para a frente.
Enquanto repete esta palavra OM mentalmente, muitas ideias vão surgir na sua consciência. Coisas do dia a dia, preocupações, onde deixou a carteira que se tinha esquecido... tudo. Um rôr de coisas irá invadir a sua mente desocupada e tentar tomar a sua atenção.
Não se interrompa pela sua mente ter descoberto onde colocou as fotografias da sua viagem a Espanha ou outra coisa do mesmo teor. A mente irá tentar tudo para obter a sua atenção.
Continuará a repetir calmamente o som mental - mesmo quando os pensamentos se tornarem desagradáveis, ou emocionalmente envolventes (o que é frequente).
Não rejeite nenhum dos pensamentos que a sua Mente lhe apresentar. Isso não é útil. Não rejeite os pensamentos... deixe-os passar. Se eles, por um momento, tomarem toda a sua atenção e invadirem por completo o seu consciente, quando se aperceber disso, volte calmamente à repetição da Mantra, e deixe o pensamento passar.
A Mantra estará sempre em primeiro lugar. Os pensamentos estarão de passagem em segundo plano. Deixe-os seguir. Não lhes dedique atenção. Tome conhecimento deles, mas não os siga.
Se seguir algum dos pensamentos, imediatamente o verá multiplicar-se em inúmeras e infinitas inter-acções e não conseguirá controlá-los... e a meditação fracassará.
É o que acontece normalmente a pessoas que 'pretendem' meditar sobre um determinado tema. A Mente acaba numa vagabundagem absurda, e sem sentido, inundando-lhe por completo a consciência.
A Meditação sobre um Tema, que um dia voltaremos a abordar, não nos concerne agora.
O que se pretende agora é a repetição do Mantra, continuamente, e o deixar passar os pensamentos sem lhes prestar mais atenção que constatar que estão por lá a passar.
Nada mais é requerido desta Meditação.
Deve fazer esta meditação pelo menos 2 vezes por dia durante um período de 20 minutos cada.
A mente acabará por se entediar com a repetição do Mantra e aos poucos os pensamentos irão desaparecendo, tornando-se mais escassos e, finalmente, desaparecerão.
É a descoberta desse Ser que se encontra sózinho nessa Vastidão que se chama Meditação: encontrarmo-nos connosco.
Não se sinta amedrontado pela Vastidão que encontra na ausência dos pensamentos. Algo está muito alerta, extraordinariamente alerta, nesse local. E esse local somos NÓS. E essa é a nossa qualidade: estar alerta.
É uma descoberta extraordinária e a partir daqui a experiência é pessoal e intransmissível.
O que cada um pode encontrar nessa Vastidão, no interior de nós mesmo, essa noção de Infinito e de não-solidão, é o princípio de muita coisa... como, por exemplo, deixar de se preocupar com o Stress e investigar mais o seu interior.
Seja como fôr, ao fim de 20 minutos desta Meditação estará absolutamente rejuvenescido, relaxado, e muitos dos seus problemas encontrarão solução mais fácil.
É normal perder-se o sentido do tempo em meditação. Para que isso não atrapalhe, na ânsia de terminar a meditação - quando os pensamentos são desagradáveis e contínuos - ou porque se perdeu num agradável prazer de estar 'ali' - use um som musical de fundo com o tempo necessário.
Não deve deixar de fazer esta Meditação 2 vezes por dia (de manhã e à tarde, se possivel), durante uma larga temporada (uns meses), até se encontrar psicologicamente tranquilo.
Descobrirá que a sua capacidade produtiva é aumentada, a sua atenção redobrada, a sua paciência para situações difíceis muitas vezes multiplicada. Será muito mais difícil aborrecer-se ou irritar-se com os outros ou com as situações do quotidiano. Quer dizer, viverá mais feliz.
Um conselho. Se fôr interrompido no meio da meditação, por qualquer imprevisto, não se mova com gestos bruscos e, após efectuar o que tem a fazer, retorne calmamente ao seu lugar e continue a meditação. Não é necessário voltar ao início. Não perca a paciência por uma interrupção. É mais pernicioso perder a paciência e explodir do que voltar tranquilamente ao local onde estava e continuar a meditar.
Quando abrir os olhos depois do tempo passado a meditar, não olhe para cores demasiado vibrantes, nem fixe directamente um foco de luz. Se puder condicionar o ambiente onde medita, deixe as cortinas corridas ou ponha o ambiente em media-luz.
Pode acompanhar a meditação com um fundo musical em som muito baixo. A escolha não deve incluir música emocional - o que seria um contrasenso. Existem vários músicos que fizeram experiências para o desenvolvimento mental de ondas Beta e Alfa e têm albuns fáceis de obter na Internet: Liquid Mind, Steven Halpern, Deuter, Llewellyn, Anugama, etc. Também há rádios apropriadas na Net que passam continuamente música de meditação: ZenRadio, Radio Yoga Meditation, facilmente sintonizáveis no Winamp Player.
Boa descoberta de si mesmo ou... viva feliz e sem Stress, apenas.
BABA NAN KEVALAM