segunda-feira, 28 de julho de 2008

TODOS OS SÍMBOLOS: A Grafia do Respeito

COURBETTES

Roland Barthes (L'Empire des Signes)

Pourquoi, en Occident, la politesse est-elle considérée avec suspicion? Pourquoi la courtoisie y passe-t-elle pour une distance (sinon même une fuite) ou une hipocrisie? Pourquoi un rapport «informel» est-il plus souhaitable qu'un rapport codé?

L'impolitesse de l'Occident repose sur une certaine mythologie de la «personne». Topologiquement, l'homme occidental est réputé double, composé d'un «extérieur», social, factice, faux, et d'un «intérieur», personnel, authentique (lieu de la communication divine). Selon ce dessin, la «personne» humaine est ce lieu empli de nature (ou de divinité, ou de culpabilité), ceinturé, clos par une enveloppe sociale peu estimée: le geste poli (lorsqu'il est postulé) est le signe de respect échangé d'une plénitude à l'autre, à travers la limite mondaine (c'est-à-dire en dépit et par intermédiaire de cette limite). Cependant, dès lors que c'est l'intérieur de la «personne» qui est jugé respectable, il est logique de reconnaître mieux cette personne en déniant tout intérêt à son enveloppe mondaine: c'est donc le rapport prétendument franc, brutal, nu, mutilé (pense-t-on) de toute signalétique, indifférent à tout code intermédiaire, qui respectera le mieux le prix individuel de l'autre: être impoli, c'est être vrai, dit logiquement la morale occidentale. Car s'il y a bien une «personne» humaine (dense, pleine, centrée, sacrée), c'est sans doute ele que, dans un premier mouvement, l'on prétend «saluer» (de la tête, des lèvres, du corps); mais ma propre personne, entrant inévitablement en lutte avec la plénitude de l'autre, ne pourra se faire reconnaître qu'en rejetant toute médiation du factice et en affirmant l'intégrité (mot justement ambigu: physique et moral) de son «intérieur»; et dans un second temps, je réduirai mon salut, je feindrai de le rendre naturel, spontané, débarassé, purifié de tout code: je serais à peine gracieux, ou gracieux selon une fantasie apparemment inventée, comme la princesse de Parme (chez Proust) signalant l'ampleur de ses revenus et la hauteur de son rang (c'est-à-dire son mode d'être «pleine» de choses et de se constituer en personne), non par la raideur distante de l'abord, mais par la «simplicité» voulue de ses manières: combien je suis simple, combien je suis gracieux, combien je suis franc, combien je suis quelqu'un, c'est ce que dit l'impolitesse Occidental.

L'autre politesse, par la minute de ses codes, le graphisme net de ses gestes, et alors même qu'elle nous apparait exagérément respectueuse (c'est-à-dire, à nos yeux, «humiliante») parce que nous la lisons à notre habitude selon une métaphysique de la personne, cette politesse est un certain exercice du vide (comme on peut l'attendre d'un code fort, mais signifiant «rien»). Deux corps s'inclinent très bas l'un devant l'autre (les bras, les genoux, la tête restant toujours à une place réglée), selon des degrés de profondeur subtilement codés. Ou encore (sur une image ancienne): pour offrir un cadeau, je m'aplatis, courbé jusqu'à l'incrustation, et pour me répondre, mon partenaire en fait autant: une même ligne basse, celle du sol, joint l'offrant, le recevant et l'enjeu du protocole, boîte qui peut-être ne contient rien - ou si peu de chose; une forme graphique (inscrite dans l'espace de la pièce) est de la sorte donnée à l'acte d'échange, en qui, par cette forme, s'annule toute avidité (le cadeau reste suspendu entre deux disparitions). Le salut peut être ici soustrait à une humiliation ou à toute vanité, parce qu'à la lettre il ne salue personne; il n'est pas le signe d'une communication, surveillée, condescendante et précautionneuse, entre deux autarcies, deux empires personnels (chacun régnant sur son Moi, petit domaine dont il a la «clef»); il n'est que le trait d'un réseau de formes où rien n'est arrêté, noué, profond. Qui salue qui? Seule une telle question justifie le salut, l'incline jusqu'à la courbette, l'aplatissement, fait triompher en lui, non le sens, mais le graphisme, et donne à une posture que nous lisons comme excessive, la retenue même d'un geste dont tout signifié est inconcevablement absent. La forme est vide, dit - et redit - un mot bouddhiste. C'est ce qu'énoncent, à travers une pratique de formes (mot dont le sens plastique et le sens mondain sont ici indissociables), la politesse du salut, la courbure de deux corps qui s'écrivent mais ne se posternent pas. Nos habitudes de parler sont très vicieuses, car si je dis que là-bas la politesse est une religion, je fais entendre qu'il y a en elle quelque chose de sacré; l'expression doit être dévoyée de façon à suggérer que la religion n'est là-bas qu'une politesse, ou mieux encore: que la religion a été remplacée par la politesse.

A CORTESIA JAPONESA

domingo, 27 de julho de 2008

"Cântico Negro"


"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom se eu os ouvisse

Quando dizem: "vem por aqui"!

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há nos meus olhos, ironias e cansaços)

E cruzo os braços

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:

criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou onde

Me levam os meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,

Porque me repetis: "vem por aqui"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar meus pés sangrentos,

A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós

Que me dareis machados, ferramentas e coragem

Para derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátrias, tendes tectos

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que não principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me faça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onde que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou, 

Não sei para onde vou,

--- Sei que não vou por aí.

                                                                                     (José Régio)

assim em cada lago a lua inteira brilha... porque alta vive

"PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO..."

"Para ser grande, sê inteiro; nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
(Ricardo Reis)

A VERDADE É UMA TERRA SEM CAMINHOS

Jiddu Krishnamurti nasceu em 1895 no sul da India. Foi descoberto com a idade de 14 anos por membros da Sociedade Teosófica, uma organização espiritual de cariz mundial.

Em 1911 foi ordenado Chefe da Ordem da Estrela, que era suposta vir a ser o veículo futuro para o seu papel de Professor do Mundo. No entanto, em 1929, ele chocou as 3000 pessoas que se encontravam reunidas em Ommem, na Holanda, com a dissolução da Ordem da Estrela, e a sua própria renúncia, proclamando que a verdade só pode ser encontrada dentro de cada um de nós e que não pode ser organizada.

Durante 90 anos Krishnamurti viajou por numerosos países e locais da Europa, América, Ásia e Austrália. Recusou ter seguidores e repetia nas suas conferências "Eu não sou o vosso Guru; vocês não são meus discípulos."

Muitos pensadores eminentes, cientistas e académicos vieram escutar e explorar a natureza da sua verdade. Entre muitos conta-se Aldous Huxley que afirmou "Foi como se tivesse ouvido um discurso do Buddha." Uma outra relação muito próxima foi com o Dr. David Bohm, um dos maiores Físicos Teóricos do mundo que trabalhou com Einstein e Oppenheimer. Outros notáveis que mantiveram contacto e diálogos com Krishnamurti conta-se o Professor Alan W. Anderson da Universidade da Califórnia e o Prémio Nobel Jonas Salk.

Krishnamurti instituiu diversas Fundações e escolas em Inglaterra, India, USA e Canadá. Até ao final da sua vida, em 1986, enalteceu sempre a necessidade da procura da verdade interior de cada um de nós, por outras palavras, "conhece-te a ti mesmo."

Dada a importância do seu discurso na dissolução da Ordem da Estrela, resolvi não o traduzir e apresentá-lo na íntegra, em língua inglesa. Foi nessa intervenção que Krishnamurti revelou talvez mais profundamente a verdadeira filosofia que sempre norteou a sua vida e que o fez recusar placidamente o papel que lhe tinha sido designado.

Basta clicar em "Pathless Land" para abrir o seu magnífico discurso de renúncia de Mestre da Humanidade

TRUTH IS A PATHLESS LAND by Jiddu Krishnamurti

Pathless Land
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sexta-feira, 18 de julho de 2008

MÃO DO COLOSSO DE CONSTANTINO IMPERADOR

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quinta-feira, 17 de julho de 2008

APOLÓNIO DE TIANA... o verdadeiro Cristo


Se há tema de conversa que irrite de maneira peristáltica a Igreja Católica, é a abordagem do seu tabú de estimação: o 1º Concílio de Nicea.
Foi um evento que aconteceu há muito tempo, em 325 Anno Domini (D.C.), a que supostamente ninguém deveria já dar atenção nenhuma mas, o caso é que --- por muitos embustes, crimes e hecatombes que a Igreja tenha perpetrado durante o seu sangrento percurso de evangelização do Mundo (as estatísticas contam em cerca de 50 milhões os inocentes designados de 'heréticos' que foram chacinados às suas mãos ao longo da História) --- este Concílio consegue exceder tudo o que uma imaginação delirante possa conceber.
Foi neste célebre Concílio, orquestrado pelo arqui-assassino Constantino, Imperador de Roma (que a sangue frio já tinha assassinado doze dos seus familiares, inclusive a sua própria esposa), mais 300 líderes religiosos de muitos credos diferentes, numa atmosfera de profunda discordância, ciúme, desconfiança e intolerância, que a Bíblia foi inventada! Na verdade, segundo Voltaire no seu Dictionnaire Philosophique, na Secção Conciles (a tradução é minha) "É contado no suplemento do Concilio de Nicea que os Padres estavam muito embaraçados para saber quais eram os livros apócrifos do Antigo e do Novo Testamento e colocaram-nos a trouxe-mouxe sobre o altar e os livros a rejeitar cairam por terra." ( Édition 1767 du Dictionnaire Philosophique).
Para além deste patético relato, não deixa de ser significativamente espantoso que o Imperador Constantino, homem de conhecida reputação de devasso pelas suas orgías e crimes, se preocupasse sobremaneira com religião. Muito menos ainda com a matéria em discussão no Concílio acerca da natureza divina de Jesus. Aliás, Constantino escreve uma carta ao clérigo de Alexandria em que dizia "Vós querelais sobre um assunto bem insignificante. Essas subtilezas são indignas de gentes razoáveis."
Tratava-se de saber se Jesus tinha sido criado ou incriado. Depois de muitas altercações, foi finalmente decidido que o Filho era tão antigo quanto o Pai, e consubstancial ao Pai.
Mas esse assunto teológico não nos interessa aqui, muito embora seja interessante ler Voltaire e saber que neste Concílio ainda não existia a Santíssima Trindade. A fórmula final deste Concílio determina apenas: "Acreditamos em Jesus consubstancial ao Pai, Deus de Deus, luz da luz, engendrado e não feito; acreditamos também no Espirito-Santo". Tudo isto à revelia de 17 bispos e dois mil padres que protestaram, segundo a Crónica de Alexandria conservada em Oxford, mas que não foram tidos em consideração por sempre pobres.
De facto, o único interesse que o Imperador Constantino tinha, em todo aquele imbróglio, era acabar com a sangrenta perseguição e massacre que movia àqueles primeiros cristãos, comunistas e pacifistas, que lhe prejudicavam a imagem e, ao mesmo tempo, sanar o problema da antiga religião de Roma, já em decadência, afim de constituir uma nova religião de Estado mais de acordo com o seu figurino. Os Padres da Igreja, outrora pagãos, e cujas mãos ainda estavam manchadas com o sangue da perseguição aos Essénios, viram que, com a adopção do Cristianismo, de forma revista, é claro, poderiam tirar partido do prestígio dos santos mártires junto da opinião pública e, ao mesmo tempo, agradar a Constantino. Até Reville, um estudioso católico, escreve com espanto: "O triunfo da cristandade durante o reinado de Constantino foi sempre considerado como uma revolução inesperada e uma daquelas surpresas históricas que, não tendo relação com qualquer outro fenómeno do passado, parecem quase um milagre. Leva-nos a conjecturar qual terá sido o processo pelo qual a mente humana tão rapidamente passou do desdém e da mais completa recusa dos ensinamentos da cristandade para o interesse e simpatia às doutrinas do novo credo..."
De maneira a tornar o desprezado culto dos Essénios aceitável para Constantino, Imperador de Roma, os Padres da Igreja tiveram que retirar da doutrina alguns pontos objeccionáveis por ele, como o consumo da carne e de bebidas alcoólicas. Foram então designados alguns "correctores" cuja tarefa foi a de reescrever os Evangelhos, retirando tudo o que dizia respeito ao vegetarianismo e abstinência ao alcoól. Os Padres da Igreja tinham um interesse especial em fazer uma tão radical mudança: eles também não queriam mudar os seus hábitos tão drasticamente. Ainda assim, Constantino insatisfeito com as decisões do Concílio, que obrigou a votar segundo a sua vontade, e impedido de matar Cristãos para seu gozo pessoal, inaugurou a primeira perseguição sistemática do Governo aos dissidentes cristãos, que denominou de heréticos (a maior parte deles Arianos), que foram forçados a fugir quando os trabalhos e livros de Arius foram confiscados e destruídos. Foram, no entanto, necessários mais duzentos anos para conseguir expurgar da doutrina cristã os conceitos de preexistência, reencarnação e salvação através da união com Deus.
Que os Evangelhos foram alterados e reescritos no Concilio de Nicea é provado pela declaração do Arcedíago Wilberforce que escreve: "Alguns não estão cientes que após o Concilio de Nicea em 325 DC os manuscritos do Novo testamento foram consideravelmente mexidos. O Professor Nestle na sua "Introduction to the Textual Criticism of the Greek Testament" diz-nos que alguns académicos, denominados de "correctores" foram designados pelas autoridades eclesiásticas e comissionados a corrigir o texto da Escritura no interesse do que era considerado Ortodoxia."
Como comentário a esta declaração, o Rev. G.J. Ouseley no seu "Gospel of the Holy Twelve" escreve: "Aquilo que os 'correctores' fizeram foi cortar minuciosamente dos evangelhos alguns ensinamentos do Nosso Senhor que eles não faziam tenções de seguir --- nomeadamente no que diz respeito a comer carne e tomar bebidas fortes (...)"
Há evidência de que não só as doutrinas originais do Cristianismo Essénio foram radicalmente mudadas no Concilio de Nicea e substituidas por outras mas também que o HOMEM que corporizava as doutrinas originais foi, da mesma maneira, subsituído por outro que exemplificaria as novas doutrinas. O nome do segundo homem, que não era vegetariano, que não proibia a matança de animais, era Jesus Cristo, que foi colocado no lugar de Apolónio de Tiana, o histórico grande professor do mundo no primeiro século.
O primeiro acto dos Padres da Igreja depois de criarem a nova religião e o seu messias, como nenhuma das coisas existira anteriormente, foi de mandarem queimar todos os livros a que puderam jogar as mãos, especialmente aqueles que tinham sido escritos nos últimos séculos, que não faziam menção a Jesus mas que se referiam largamente a Apolónio como líder espiritual do século primeiro. Se esses livros não fossem destruidos constituiriam uma ameaça à sobrevivência da sua fraude. Foi por esta a razão que os padres da igreja se deram tanto trabalho a queimar antigas livrarias, incluindo a famosa Biblioteca de Alexandria e os seus 400.000 volumes que foram reduzidos a cinzas por édito de Theodosius, quando uma multidão cristã destruiu o Serapeum, onde manuscriptos e pergaminhos eram guardados.
Contudo, os homens da igreja falharam o seu propósito porque os bibliotecários de Alexandria, prevendo os acontecimentos, retiraram secretamente os seus volumes mais preciosos, entre os quais aquele que tem causado uma longa discussão: "Life of Apollonius of Tyana" escrito por Flavius Philostratus no início do terceiro século D.C.
A razão pela qual este livro é tão temido pela Igreja é somente porque não faz qualquer referência a Jesus e ao Cristianismo. Apresenta Apollonius como o grande mestre do primeiro século, reverenciado por todo o Império Romano, por todos, desde o Imperador à plebe.
F.A. Campbell no seu livro "Apollonius of Tyana" escreve: "O nascimento de Apollonius é determinado no ano 4 A.C. Mas toda a gente sabe, de acordo com a actual computação, que o inicio da era Cristã está incorrecta e que o primeiro ano do Senhor deve ser datado quatro ou cinco anos antes. Se as natividades Apoloniana e Cristã pertencem ambas ao mesmo ano, a coincidência deve merecer mais atenção do que aquela que tem recebido."
Tanto a grata Tyana como a ingrata Nazareth, embalaram um profeta de vida impecável, de poderes maravilhosos, de super-abundância de amor e carinho, e de virtude heróica. Tanto Apollonius de Tyana como Jesus de Nazareth nasceram no mesmo lustro, se não no mesmo ano. Tanto o bébé de Tyana como o de Nazareth foram originados por um pai divino e uma mãe humana e ambas as crianças fizeram o seu primeiro choro entre cânticos celestiais. E não são só estes os paralelos nas memórias dos Tyanianos e dos Nazarenos
."
Depois de Campbell, Tschendorf acrescenta: "Autor atrás de autor, volume atrás de volume, a vida de Cristo pode ir aparecendo até o universo estar cheio e, no entanto, tudo o que temos da vida de Jesus, encontra-se no Evangelho de Mateus. Mais nenhuma pessoa especialmente associada a Jesus conta a sua história."
Taylor, em "Diegesis", 1829 escreve: "Investigámos todos os documentos que reclamaram uma plausível investigação e que a história preservou nas transacções do primeiro século, e nem uma simples passagem (mesmo que tivesse sido escrito em qualquer tempo dentro dos primeiros séculos) pôde ser produzida que mostrasse a existência de um tal homem Jesus Cristo ou um tal grupo de homens que pudesse assemelhar-se aos seus discípulos."

Aquilo que aqui é transcrito não pretende de maneira nenhuma minimizar o Cristianismo como religião ou filosofia de vida. Tenta apenas repôr a História para que outros não tenham a veleidade de a reescrever a seu bel-prazer.

Para informação mais especializada, além da 'montanha' de discussões historico-filosóficas sobre este assunto que encontrei na Net, remeto a todos para:
"Apollonius of Tyana the Nazarene" escrito por Dr. R. W. Bernard, B.A., M.A., PH.D. (1964)
Fieldcrest Publishing Co., Inc. 210 Fifth Avenue, New York 10, NY
http://members.iimetro.com.au/~hubbca/apollonius.htm



quarta-feira, 9 de julho de 2008

A GRANDE DEUSA VESTIDA DE PRATA


Desde o início dos tempos a Humanidade tem olhado para a Lua e para as estrelas em busca de sinais. As culturas antigas estudaram o movimento dos corpos celestiais de maneira a entender as suas influências na vida do quotidiano e assim poderem ajuízar quanto às suas grandes decisões ou nas previsões do futuro.
O próprio nome das estrelas, planetas e constelações vistas a olho nú, traduz de alguma forma as suas características específicas quanto ao carácter humano, como a impulsividade, a harmonia, a belicosidade; e a sua posição relativa nos Céus universais também determina a importância da sua influência, em conjugação com outras presenças, e interacções, numa determinada data.
Mas, a nossa vizinha Lua, companheira dos solitários e dos enamorados, tem uma influência bem mais marcante, tanto no aspecto físico literal como no inconsciente colectivo da Humanidade.
A Lua influencia tudo o que é fluido sobre o planeta Terra. Desde o regime das marés ao nascimento das crianças, desde a mudança dos humores humanos ao índice de acidentes rodoviários.
A Ciência tem-se debruçado bastante sobre os provérbios e práticas ancestrais em busca da explicação científica para o pragmatismo desses usos e costumes. Alguns foram elucidados pela natureza das coisas mas outros encontram-se envoltos num véu de incompreensão e mística.
Mas a Gaia Ciência é furtiva ao bisturi mais afiado dos académicos e deixa-nos apenas a sabedoria oral que percorreu milénios antes de chegar aos nossos dias.
Aprender como actuar de acordo com as energias da Lua ajuda-nos a sintonizar com o ritmo do fluxo de Energia Universal.
Em astrologia a energia da Lua é a nossa guia e a força directiva para vivermos o nosso caminho. A lua transmite a energia da Deusa, energia Yin, de receptividade de características femininas.
Trabalhando com os ciclos da Lua permite-nos utilizar as forças criativas de maneira estupenda.
Quando trabalhamos com os fluxos da lua, mergulhamos na energia de estar no lugar "certo" no momento"correcto".
Cada mês lunar, começando pela Lua Nova, tem oito fases, cada uma delas com a duração aproximada de 3,7 dias. O poder das fases da lua afecta profundamente a vida no planeta. Cada fase lunar transporta consigo um tema específico de acção que atrai para as nossas vidas situações tendentes a expressar na sua totalidade esse mesmo tema. Trabalhar com um tema específico da fase lunar permite maximizar estrategicamente a manifestação da sua energia e manipulá-la de acordo com as nossas necessidades.
A energia do ciclo lunar cresce à medida que lentamente a lua se vai revelando e se esconde de novo. Cada ciclo lunar conduz a um novo ciclo lunar permitindo continuamente a expansão de um tema. Uma manifestação conscienciosa com os ciclos da lua pode levar a uma espiral de expansão espiritual, emocional e material.
Quando se trabalha com as Fases da Lua é conveniente manter um diário onde se vai anotando o que estamos a criar com a lua. Fazendo atenção às fases da lua podemos tomar as acções apropriadas que reflictam as energias que estamos a atrair para a nossa vida. Depois do fecho de cada ciclo lunar poderemos avaliar todo o processo moldar os objectivos e as estratégias para o ciclo lunar seguinte.
A primeira fase do ciclo, chamado de Lua Nova, é o tempo de plantar as novas sementes de crescimento. É o tempo para novos começos e novas direcções. Do ponto de vista prático, este é o tempo para iniciar qualquer coisa, começar um novo negócio ou uma campanha publicitária, e visualizar o objectivo, tanto espiritual como emocionalmente.
A próxima fase lunar é chamada de Lua Crescente. A Lua Crescente é o tempo para desenvolver um plano claro e prático sobre o nosso objectivo e de como lá chegar. A energia da Lua Crescente é de fantasia e imaginação. Durante este período devemos permitir-nos a sonhar acordados acerca dos objectivos a que nos determinámos na Lua Nova.
O Primeiro Quarto segue-se à Lua Crescente. A energia do Primeiro Quarto é baseado em "acção". Este é o momento em que o Universo nos envia energia para "fazer". Funcionar com confiança e sabedoria conferirá mais poder durante este período. Avança-se destemido e deixa-se todas as hesitações para trás.
A próxima fase é chamada de Lua Gibbous (mais de metade e menos de completa iluminação). É uma das fases mais poderosas da lua e requer apenas que nos sentemos tranquilamente e tenhamos em atenção aquilo que vem até nós. É a altura em que pessoas e oportunidades, que podem ajudar no objectivo que traçámos, aparecerão na nossa vida. Deve-se partilhar os nossos sonhos com os outros, nesta altura, para observar o que é activado.
A Lua Cheia termina a fase de Gibbous. A energia da Lua Cheia é como um período de pequenas férias antes da colheita. O dia seguinte à Lua Cheira deve ser de reflexão e quietude. Poder-se-á sentir neste período um grande acréscimo de energia dentro de nós quando o ciclo chega ao seu término. Receber-se-á mais energia do que já se tinha em preparação para a fase da colheita, na jornada da lua.
A Lua de Disseminação é o tempo da colheita. É tempo de segar o que se semeou, um tempo de manifestação. Neste ciclo lunar todo o trabalho dará frutos. Planeia as apresentações e workshops para esta altura.
O Último Quarto é o tempo de iniciar mudanças. É tempo de avaliar a produção deste ciclo lunar e largar todas as coisas que não forem benéficas. Se a Lua de Disseminação é como a época das colheitas, o Último Quarto é o tempo de lançar à terra os restos das colheitas para fertilizar o solo para a nova plantação. É tempo de reflexão e refinamento de conceitos. Novas ideias poderão a pouco e pouco tomar forma na nossa cabeça. Tempo de completar antigos projectos e abandonar estratégias e situações que não estão a resultar.
A Lua Balsâmica é a última fase da lua. É o tempo de nos concentrarmos no Futuro. As novas sementes já foram jogadas à terra. O período de retiro e retrospectiva terminou e a energia quer de novo avançar. É a altura onde se deve esquecer todos os medos do passado e jogar com os potenciais do futuro enquanto nos preparamos para um novo ciclo lunar.
Trabalhar com os ciclos lunares pode ser extremamente poderoso e remove grande parte da resistência energética que impede os nossos desejos de se manifestarem.
Se os Antigos acreditaram... porque não tentar para ver se conseguimos ser os novos magos do sec. XXI?

"Lua, luar, aqui tens o meu menino, ajuda-mo a criar. Tu és mãe, eu sou a ama. Cria-o tu que eu dou-lhe mama"

Greatest Moon Photos Ever!!!
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sábado, 5 de julho de 2008

A 'ATENÇÃO ACTIVA' DE GEORGE IVANOVITCH GURDJIEFF

"Um homem renunciará a todos os prazeres que quiserem mas nunca abdicará do seu sofrimento."
G.I. Gurdjieff


Não tanto me irei referir às obras de Gurdjieff, cuja complexidade dos textos filosóficos poderia entediar muitos, mas antes contar as extraordinárias aventuras desta figura invulgar que correu mundo em busca de um Conhecimento que ainda hoje é mal compreendido por todos, inclusive aqueles que foram seus discípulos e que, mais tarde, o homenagearam como seu Mestre e seu Mentor.
E não estou a falar de pessoas comuns mas sim de grandes pensadores, artistas e escritores como Thomas de Hartmann (Notre vie avec Gurdjieff), Michel Waldberg (Gurdjieff), Elisabeth Antebi (Avé Lúcifer), P.D. Ouspensky (Fragmentos de Um Ensinamento Desconhecido) e Louis Pauwels (Monsieur Gurdjieff) que se referia a ele como "o homem que não dorme."
Toda a vida deste inquietante personagem está envolta em brumas de incertezas, de segredos, de viagens iniciáticas, de práticas obscuras, ausências durante meses, por vezes anos, e o reaparecimento inesperado em locais improváveis, umas vezes em Moscovo, outras em Nova Yorque ou Paris.
Terá nascido em Alexandropol, na Arménia, no inicio de 1877. Seu pai era um Grego ashokh, um contista-poeta, abastado proprietário de rebanhos que uma epidemia de peste levou à ruína. A família deixa Alexandropol para se estabelecer em Kars onde Gurdjieff, ainda criança, entra para o colégio da cidade e se torna cantor no Coro da Igreja. O velho e adoentado padre Borsh, que é a autoridade espiritual da região, toma a seu cargo a educação do jovem que baseia em dez principios:
- a espera de um castigo por qualquer desobediência;
- a esperança de merecer recompensa apenas se for merecida;
- o amor de Deus mas a indiferença pelos santos;
- os remorsos de consciência pelos maus trtos infligidos aos animais;
- o receio de causar desgosto aos pais e aos educadores;
- a impassibilidade em relação aos diabos, às serpentes e aos ratos;
- a alegria de se contentar com o que se tem;
- o desgosto de ter perdido a boa vontade dos outros;
- a paciência para suportar a dor e a fome;
- o desejo de ganhar honestamente o pão.
Como o jovem é bem dotado o pai destina-o ao sacerdócio mas o padre Borsh decide que será médico porque "não se pode ser um bom padre sem ao mesmo tempo ser médico, porque o corpo e a alma estão ligados".
A principal caracteristica do método educativo do padre, nos diferentes oficios sob a sua orientação pessoal era de que cada vez que o jovem se familiarizava com um oficio, ou começava a gostar dele, logo o padre o obrigava a trocá-lo por outro. O objectivo não era fazer o jovem aprender todos os géneros de oficios mas desenvolver-lhe a capacidade de dominar as dificuldades apresentadas por qualquer trabalho novo. E na verdade Gurdjieff afirmaria mais tarde "desde esse tempo, qualquer trabalho tomou para mim um sentido e um interesse que não residiam nele mas unicamente na medida em que não o conhecia e não sabia executá-lo."
Mas o padre Borsh está velho e passa a sua educação ao novo substituto Bogatchevsky. O novo padre entretém um grupo de amizade e discussão sobre filosofia, espiritismo e experimentação com mesas giratórias. Gurdjieff numa das sessões fica profundamente impressionado e afirma: "tive a impressão que um novo domínio desconhecido se abria na minha frente". No mesmo ano em que assistiu à sessão de espiritismo, visita pela Páscoa os seus tios. Sua tia confidencia-lhe ter consultado um oráculo que predissera que o sobrinho teria uma ferida na ilharga e seria vitima de um acidente com uma arma de fogo. O rapaz que se acabara de curar de um furúnculo na ilharga direita fica muito impressionado e, mais ainda, quando na semana seguinte durante uma caçada é ferido com gravidade. A predição realizara-se!
A sequência de fenómenos sobrenaturais que entram de rompão pela sua vida deixam-no muito perturbado. Por um lado há uma fascinação que exercem sobre o seu espirito; por outro, há o seu racionalismo dos conhecimentos adquiridos no estudo das ciências exactas.
Nesse mesmo Verão Gurdjieff é testemunha de uma cena desconcertante: uma criança yesida (membro de uma seita que se diz votada ao Diabo), chora e debate-se para sair de um circulo que os companheiros traçaram á sua volta, no chão. Segundo a tradição yesida é preciso apagar uma parte do circulo para libertar o prisioneiro pois um yesida não pode pela sua vontade quebrar o circulo onde está fechado. Desejoso de verificar o fenómeno Gurdjieff apaga uma porção de circulo e a criança pára de se debater e sai da estranha prisão.
A confiança então que tivera no ensino dos seus mestres, que não lhe dão respostas satisfatórias às questões que o preocupam, enfraquece, e quando o padre Borsh, gravemente doente se retira, e seus pais decidem voltar a Alexandropol, o jovem toma as rédeas do seu destino e durante cerca de vinte anos errará pelo mundo inteiro acompanhado por amigos com os quais funda o grupo dos "Buscadores da Verdade".
É assim que vai para Etchmiadzine onde trava conhecimento com um estudante de Teologia chamado Pogossian, que se junta a ele, e decidem visitar as ruínas de Ami, antiga capital da Arménia. A pesquisa aos subterrâneos da antiga cidade dá-lhes a conhecer um conjunto de velhos pergaminhos que tentam decifrar e que lhes revela a existência de uma célebre escola esotérica, Sarmung, à qual se atribui a posse da chave de inúmeros mistérios ocultos. E ei-los a caminho de Mossul, na Alta Mesopotâmia, onde a escola se situa. Porém, na sua viagem atribulada para a Síria o jovem Pogossian é mordido por uma serpente venenosa e são obrigados a refugiar-se em casa de um padre arménio. Enquanto espera a convalescença do seu amigo Gurdjieff vai ouvindo as estórias do padre que afirma possuir um antigo pergaminho que um príncipe russo um dia quis comprar e, perante a sua recusa, lhe ofereceu duzentas libras para o copiar. Intrigado, Gurdjieff pede para ver o tal pergaminho e: "não consegui decifrá-lo imediatamente, mas ao olhá-lo de mais perto... Meu Deus, que emoção! Nunca esquecerei esse minuto! O que tinha diante dos olhos era precisamente o que tanto havia ocupado o meu espirito e que há meses não me deixava dormir! Era o mapa daquilo a que chamam "o Egipto de antes das areias". E é para o Egipto, já sem o seu companheiro cansado de peregrinações, que Gurdjieff se dirige.
No Cairo trava conhecimento com o professor de arqueologia Skridlov que lhe apresenta um seu amigo Lubovedski que fica muito perturbado ao ver o pergaminho de Gurdjieff. Lubovedski não era outro senão o príncipe russo que pagara a ouro a cópia do documento ao padre arménio. Decidem então os três organizar uma expedição à Índia e ao Tibete assim como a diversos pontos da Ásia Menor.
Numa das suas andanças através da Pérsia os viajantes ouvem falar de um dervixe reputado pelos seus prodígios. "Vimos", conta Gurdjieff, "um homem, quase um velho, coberto de andrajos, descalço, sentado no chão com as pernas cruzadas. Era a hora de jantar. Um discípulo trouxe a refeição: arroz numa tigela". O dervixe não deixou de olhar Gurdjieff durante a refeição e tomou subitamente a palavra: "--- Mastigando a comida com tanto cuidado, o senhor reduz o trabalho do seu estômago; habitua-se à perguiça. É o contrário do que deve fazer. Não só não deve mastigar cuidadosamente a comida, mas até mesmo, na sua idade, mais vale não a mastigar de todo, para fazer trabalhar o estômago."
Gurdjieff interroga então o velho sobre a utilidade das suas aprendizagens com os iogas hindus acerca da respiração.
"Todos os exercícios de respiração que são indicados nos livros ou ensinados nas escolas esotéricas contemporâneas só podem fazer mal, explica o velho. (...) Existe, entre os ritmos de funcionamento dos diferentes orgãos uma relação bem definida. Para manter esse equilíbrio é necessário um conhecimento total do organismo. Um orgão depende do outro, está tudo ligado. É mudar tudo ou nada mudar."
Gurdjieff decide passar uma semana a aprender tudo o que podia com o seu novo mestre e, em seguida, o grupo parte para o Iraque onde se separa, cada um dos membros com um diferente destino. Gurdjieff depois de Meca e Medina, as duas cidades santas do Islão, decide ir a Bucara onde ele supõe ir encontrar as próprias origens do Islão. Segundo ele "foi ali que se concentraram desde o início, todos os elementos da doutrina secreta desta religião." Mas, não irá até ao fim da sua jornada. No caminho encontra um curioso mosteiro, refúgio dos adeptos da "Confraria Universal". Durante seis meses o padre Giovanni introdu-lo no seio da confraria e na busca e conhecimento do Deus único, criador de todos os povos e todas as raças: o Deus Verdade. O padre Giovanni, antigo missionário, parece agora apenas aspirar á calma da meditação: "Querer inocular a fé com palavras, explica ele, é como se quiséssemos, apenas com o olhar, saciar a fome de alguém. Não se dá fé aos homens. A fé que nasce no homem e nele se desenvolve activamente não é resultado de um conhecimento automático, mas da compreensão. O saber e a compreensão são coisas diferentes. É preciso que nos esforcemos por compreender; só isso pode levar a Deus."
Gurdjieff volta então à Rússia para partir quase em seguida com o professor Skridlov e Vivitskaia ao encontro do príncipe Lubovedski que se encontra no Pamir, a caminho da Índia.
Mas, como de costume, perdidos do seu caminho, encontram um velho pobremente vestido que conhece bem a região e aceitam em segui-lo. O estranho homem, que afirma ter já domesticado ursos selvagens, uma noite revela aos companheiros que é um ez-ezunavuran, ou seja, um faquir, e que tem o poder de curar doenças.
Para demonstrar os seus dons, o velho examina Vivitskaia que há um mês sofre de uma afecção na garganta que se assemelha a um bócio. Com gestos e frases misteriosas o faquir massaja a zona doente à jovem e ante o olhar perplexo de Gurdjieff e dos amigos, o inchaço desaparece completamente. O velho cura ainda Skridlov que há mais de dez anos sofre de dores nos rins e Yelov que tem uma inflamação crónica nos olhos. Os viajantes suplicam ao velho que os inicie na sua sabedoria e Gurdjieff faz esta sua nova experiência que contará mais tarde em: "O Corpo Astral do Homem, as Suas Necessidades e as Suas Possibilidades de Manifestação em Conformidade com as Leis".
Esta busca desordenada de sabedoria acalma-se e Gurdjieff instala-se em Moscovo onde organiza colóquios e conferências que atraem numerosos intelectuais e homens de ciência entre os quais Ouspensky, que regressa de uma longa viagem pelas Índias e por Ceilão. O escritor, fascinado pela personalidade de Gurdjieff, torna-se seu discípulo e seu biógrafo.
Com a Revolução de Outubro de 1917, Gurdjieff refugia-se no Cáucaso, com uma centena de discípulos, a cria o "Instituto para o Desenvolvimento Harmónico do Homem". Mas a revolução chega ao sul do Cáucaso e Gurdjieff deixa a Rússia. Durante um ano, em Constantinopla, juntamente com trinta restantes discípulos, cria um novo Instituto á custa de conferências e cursos consagrados às ciências humanas.
Parte depois para Berlin onde alguns ingleses interessados pelas suas ideias se oferecem para financiar a instalação do seu Instituto em Londres. Gurdjieff recusa e instala-se em França em Junho de 1922 e através de fontes de rendimento provenientes de tratamentos psicológicos, casos difíceis de alcoolismo e toxicodependência, obtém lucros consideráveis.
Em 1924, embarca para a América com quarenta dos seus alunos e organiza duas séries de representações de danças sagradas em Nova Iorque, além de várias conferências destinadas a dar a conhecer ao público as ideias de base do instituto e a sua aplicação a diferentes domínios, tais como a psicologia, a medicina, a arqueologia, a arquitectura, a arte e mesmo aos diversos tipos de fenómenos sobrenaturais.
O objectivo das representações era o de fazer penetrar no processo da vida quotidiana dos homens a significação destas ideias, e pôr em relevo os resultados práticos aos quais elas podiam conduzir. Assim, a 8 de Abril de 1924, Gurdjieff abre em Nova Iorque uma filial do Instituto para o Desenvolvimento Harmónico do Homem.
Ao regressar a França, Gurdjieff sofre um acidente de automóvel que o deixa gravemente ferido. Condenado a um longo repouso, consagra-se em pôr as suas ideias em dia.
Gurdjieff escreveu três livros cujo título genérico é: Do Todo e de Tudo.
O primeiro, intitulado Narrativas de Belzebu ao Seu Neto, tem por objectivo "extirpar as crenças e opiniões enraizadas no psiquismo dos homens a propósito de tudo o que existe no mundo". No segundo, Encontros com Homens Notáveis, quer tornar conhecido o material necessário para uma reedificação e provar a sua qualidade e solidez. Quanto ao terceiro, A Vida só é Real quando «Eu Sou», é destinado a favorecer no pensamento e no sentimento a eclosão de uma representação justa, não fantasista, do mundo real.
Para Gurdjieff o homem é apenas uma máquina. A civilização, desenvolvendo certas faculdades no homem, destruiu completamente outras. O homem comum tem três centros de faculdades: o centro intelectual, o centro emocional e o centro físico ou instintivo. Em cada um de nós um destes três centros predomina, e por isso nós somos incompletos. Não é raro, por exemplo, ver um grande sábio, no qual a faculdade intelectual é mais desenvolvida, portar-se como uma criatura caprichosa e distraída.
O homem, portanto, é apenas uma máquina que reaje maquinalmente a acontecimentos exteriores. Não sou eu que penso, mas qualquer coisa que está fora de mim; não sou eu que ajo, mas circunstências exteriores que exigem de mim uma acção apropriada.
Então quem sou eu? Tal é o ensino fundamental de Gurdjieff: encontrar-se, conhecer-se a si próprio. O homem deve ser dono de si mesmo e não se deixar conduzir pelas facilidades do mundo moderno que lhe dita as suas reacções.
--- Alguma vez encontrou um homem?... pergunta frequente de Gurdjieff aos seus discípulos.

(Fontes bibliográficas: P.D. Ouspensky, Philippe Aziz, Louis Pauwels, Instituto Gurdjieff)











quinta-feira, 3 de julho de 2008

"Só o mar das outras terras é que é belo..."

Connemara Beach
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Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
A MESMA – Falar do passado – isso deve ser belo, porque é inútil e faz tanta pena...

SEGUNDA – Falemos, se quiserdes, de um passado que não tivéssemos tido.

TERCEIRA – Não. Talvez o tivéssemos tido...

PRIMEIRA – Não dizeis senão palavras. É tão triste falar! É um modo tão falso de nos esquecermos!... Se passeássemos?...

TERCEIRA – Onde?

PRIMEIRA – Aqui, de um lado para o outro. Às vezes isso vai buscar sonhos.

TERCEIRA – De quê?

PRIMEIRA – Não sei. Porque o havia eu de saber?



(uma pausa)



SEGUNDA – Todo este país é muito triste... Aquele onde eu vivi outrora era menos triste. Ao entardecer eu fiava, sentada à minha janela. A janela dava para o mar e às vezes havia uma ilha ao longe... Muitas vezes eu não fiava; olhava para o mar e esquecia-me de viver. Não sei se era feliz. Já não tornarei a ser aquilo que talvez eu nunca fosse...

PRIMEIRA – Fora de aqui, nunca vi o mar. Ali, daquela janela, que é a única de onde o mar se vê, vê-se tão pouco!... O mar de outras terras é belo?

SEGUNDA – Só o mar das outras terras é que é belo. Aquele que nós vemos dá-nos sempre saudades daquele que não veremos nunca...


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quarta-feira, 2 de julho de 2008

FILOSOFIA DE PRAIA

Ler Jorge Luis Borges numa tórrida tarde de Verão, embalado pelo murmúrio das ondas da maré, é quase um prazer metafísico.
Eu tenho "livros de praia" como as 'tias' da sociedade têm "salidas de playa" --- aqueles camiseiros brancos debruados a azul-ultramar a condizer com a saia plissada, ou calção branco, e panamás de palhinha com apliques de renda.
Antigamente lia com voracidade Agatha Christie e Patricia Highsmith, as duas velhas preversas, como eu lhes chamava, que conseguiam literalmente estraçalhar a minha lógica analítica policial, que é paupérrima, diga-se em abono da verdade. Além disso fartei-me de tentar esquecer as tramas das estórias tantas vezes relidas e passei a Gabriel Garcia Marquez, muito ambora Macondo e toda a paisagem literária de Marquez seja demasiado equatorial para se ler na praia. Dessa maneira, elegi Borges que é do tipo frio, mental e filosófico e não nos coloca em local nenhum a não ser nos labirintos da sua cabeça.
Aconselho vivamente a quem "vá a banhos", como se dizia antigamente, levar um ou dois livros de Borges. "O Aleph", "O Livro de Areia" ou as suas "Ficções", que tem contos absolutamente prodigiosos como "A Biblioteca de Babel" ou "O Jardim dos Caminhos Que se Bifurcam".
Jorge Luis Borges era um ávido leitor de Enciclopédias, daí a sua formidável cultura geral, e um especialista em Filosofia, Teologia, Mitologia e "delírios do recional", sobretudo os seus desdobramentos matemáticos expressos em labirintos lógicos e jogos de espelhos. Os contos não cansam porque são curtos e conduzem-nos invariavelmente a um estado de perplexidade. Nada que um bom mergulho na água gelada da praia de Sines não possa despertar.
Não sei se vem a propósito mas --- Borges afirmaria que "há uma causalidade mágica ligando os acontecimentos no decorrer de uma narrativa" --- encontrei nos arquivos da EDGE.org, no nº 216, de Julho do Verão passado (July 10, 2007), um texto do filósofo español Salvador Pániker sob o título "Regarding A New Humanism".
O "Novo Humanismo" é um conceito recorrente da EDGE, organização criada a partir de um grupo de cientistas e escritores conhecido por "The Reality Club" e que consiste no agrupamento informal das melhores mentes do nosso planeta. A EDGE não tem fins lucrativos e os membros são legítimos donos do copyright do seu trabalho científico, filosófico, literário ou artístico.
Salvador Pániker refere a "Terceira Cultura", citando a famosa alocução de C.P.Snow em Cambridge em 1959 sob o título "As Duas Culturas e a Revolução Científica" (The Two Cultures and the Scientific Revolution) lamentando a cisão académica e profissional entre o campo das ciências e o das letras. Em 1963, na segunda edição do seu livro "The Two Cultures", Snow sugeriu optimista o emergir de uma terceira cultura, como que uma ponte entre intelectuais literários e os cientistas que os poria a falar na mesma lingua. Tal não aconteceria, como Snow prevera, porque foram os pensadores da Terceira Cultura que decidiram dirigir-se ao público directamente evitando intermediários.
John Brockman em 1991 afirmava "... nos últimos anos o parque de diversões da vida intelectual americana fez um desvio e os intelectuais tradicionais foram ficando cada vez mais marginalizados. A educação baseada em Freud, Marx e o Modernismo não são qualificação suficiente para um pensador dos anos 90. Na verdade, os intelectuais americanos tradicionais são, de certa forma, cada vez mais reaccionários e na maioria dos casos orgulhosamente (e perversamente) ignorantes de grande parte das realizações verdadeiramente significativas a nível intelectual do nosso tempo. A sua cultura que dispensa a ciência é muitas das vezes não empírica. Usa o seu próprio calão e lava a sua roupa suja. É supremamente caracterizada por comentar comentários num turbilhão aglutinante de comentários que desagua num ponto onde já ninguém sabe onde é o mundo real."
Do ponto de vista de Salvador Pániker "o novo humanismo devia adoptar certas reformas linguísticas. Veja-se, por exemplo, a extensão em que ainda hoje somos condicionados pela velha construção Aristotélica de sujeito, verbo e perdicado, que também forma o modelo cartesiano de sujeito-objecto de cognição. Esta convenção é responsável --- e foi denunciada por Buddha e David Hume --- por cometer a falácia de acreditar na existência da mente, quando a única coisa de que podemos estar seguros é da existência de actos mentais.
De facto, o que ocorre no género filosófico é que as palavras devem transmitir conceitos deixando pouco espaço para flores de retórica. Em filosofia é muito difícil escapar a um modo gramatical determinado. Martin Heidegger já tinha explicado que tinha abandonado a escrita da segunda parte do seu "Ser e o Tempo" por causa da inadequação da linguagem metafísica que identifica sempre o Ser com o evento de ser, esquecendo a diferença ontológica."
Pániker continua: "Nada nos obriga a pensar que o mundo deva ser completamente inteligível. Pelo menos para nós, símios pensantes. Pelo menos em relação aquilo que nós símios pensantes compreendemos como inteligível (...) o novo humanismo devia começar por uma cura de modéstia, talvez abjurando o muito arrogante conceito de humanismo que coloca o animal humano como ponto central de referência a toda a existência. Um novo humanismo compatível com a sensitividade da metafísica não pode voltar as costas às ciências. (...) Os verdadeiros "textos sagrados" da tradição ocidental têm sido há séculos os dos grandes autores. Platão e Aristóteles, Dante e Shakespeare. Mas também Victoria, Bach, Handel, Beethoven. E Giotto, Fra Angelico, Rembrandt. E Arquimedes, Pascal, Newton, Darwin, Einstein, Heisenberg. E Paul Celan e Bela Bartok. Etcaetera. Todos eles são "autores sagrados". Canónicos. A Física Quântica não é um monumento menos inspirador que a Biblia. Nem menos ambíguo. O cientista Arthur I. Miller escreveu: 'Como grande obra literária, a teoria quântica está aberta a uma miríade de interpretações'." (trad.pessoal).
O Novo Humanismo não poderá, como na Renascença, fazer a fusão de vários campos de Conhecimento humano porque a montanha de especialização se tornou enorme. Mas poderemos ainda esperar que várias áreas de conhecimento comuniquem entre si sem minar o campo um do outro.
Um dos maiores problemas da comunicação humana é exactamente compreender a complexidade de outrém de um ponto de vista de especialista. Não podemos só ver o mundo em estruturas se formos engenheiros, nem em epidemias se formos médicos, nem em flutuações de Bolsa se formos economistas. Urge globalizar o conhecimento nas suas componentes especializadas e ter a flexibilidade de o entender de múltiplos pontos de vista.
Na essência, esta era a ideia de Edgar Morin: "a transdiciplinariedade" que, sem tentar unificar num só os campos de conhecimento, aspira à comunicação entre as disciplinas baseado num pensamento complexo. Não é toda a Física, toda a Biologia, toda a Antropologia... mas vale a pena ligar todas estas áreas ciberneticamente.
É a visão Enciclopédica de Jorge Luis Borges aplicada à compreensão do mundo.
(João do O'Pacheco)

CONSELHO DE MÃE

Jiun, un mestre de Shingon, era um reputado académico na Era de Tokugawa pelo domínio do Sanscrito. Quando era jovem tinha o hábito de fazer palestras aos alunos de seu irmão.

A sua mãe, tendo tido conhecimento do que acontecia escreveu-lhe uma carta:

"Filho, não me parece que te tenhas tornado um devoto de Buda porque tiveste o capricho de te tornar num dicionário ambulante.
Nunca haverá fim para a informação e para os comentários, para a glória e as honrarias. Gostaria muito que acabasses com essa manía das palestras.

Fecha-te num modesto templo na região mais remota das montanhas. Devota o teu tempo à meditação e, dessa maneira, obtém a verdadeira realização."